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A Dualidade do Ser Psíquico

  • Mauricio Mendonça
  • 28 de ago. de 2017
  • 7 min de leitura

Apesar de não haver um consenso e nem sequer uma definição clara da natureza intrínseca da mente, a moderna psicologia admite que ela é normalmente dividida em pelo menos duas partes o Consciente e o Inconsciente. Alguns admitem três: Id, Ego e Superego. É forçoso reconhecer que por exemplo, Eu, Maurício, que estou aqui fazendo esse esforço consciente (sem trocadilho) para entender esse aspecto da mente humana, sou apenas uma parte, talvez uma pequena parte de um ser orgânico, psíquico e espiritual muito mais complexo. Talvez esse Ser Integral, tenha uma consciência superior e mesmo uma superconsciência, ou no mínimo uma “consciência paralela” à nossa consciência normal de vigília, o nosso Eu.

Sendo assim é justo perguntar: temos dois seres pensantes dentro de nós e sendo de certa forma independentes e autônomos, cada um com sua própria “consciência”? Sim, eu sei, essa é uma ideia muito estranha. Mas vamos analisá-la e buscar apoio na literatura materialista e espiritista a fim de entendê-la melhor, para posteriormente tentar propor um mecanismo para a integração desses dois seres conscientes em um só psiquismo, o Ser Espiritual.

O Paradigma materialista usado pelas ciências Psi(Psicologia, Psiquiatria e também a Psicanalise) paradoxalmente não usam a alma para conceituar a mente. A Psicologia nos dá uma série de conceitos funcionais variando um pouco dependendo do teórico e não se arrisca a tratar da natureza intrínseca da mente. Por seu lado a Neurociência nos oferece um conceito puramente biológico ou melhor orgânico: a mente é o cérebro. Quando muito se diz que a mente é um produto do cérebro, da mesma forma que uma glândula produz hormônio. A consciência, portanto, seria uma espécie de subproduto que o cérebro criou no decorrer do processo de evolução. Os demais processos mentais, e todas as psicopatologias também teriam uma gênese cerebral, biológica, genética, orgânica.

Apesar disso a Psicologia, Psiquiatria e principalmente a Psicanálise admitem a existência de algo imaterial (isso não quer dizer que considerem espiritual) que guarda uma certa distância conceitual do cérebro. Como analogia, Hermínio Miranda, compara a dicotomia mente x cérebro com software x hardware do computador. Esse algo imaterial que chamamos de mente teria dois módulos principais, para usar a linguagem de informática, o consciente e o inconsciente. Paradoxalmente, ambos possuem consciência, cada qual ao seu modo.

Mas quando e quem começou a sugerir essa hipótesede que temos agentes “inconscientes” agindo como se tivesse consciência de si mesmo dentro da nossa mente? A Seguir faremos um breve passeio pelo tempo e pelas mentes de alguns desses ilustres pesquisadores.

Franz Mesmer (1734) e Marquês de Puységur (1751)

Os médiuns sonambúlicos caíam em um estado semelhante ao sono e eram passíveis de se submeter a sugestões dos magnetizadores. Nesse estado alguns apresentavam uma persona um tanto quanto diferente do sujeito em situação de vigília. Mesmer, entretanto, não deu o devido valor a este fenômeno em particular, valor que só veio a ser dado pelo Marquês de Puységur, seu seguidor. Puységur estudou os médiuns sonambúlicos (latim: ambulo = passear, andar; somnus = sono) e descreveu coisas importantes sobre eles, como a inexplicável capacidade que possuem de andar de olhos fechados por lugares perigosos sem caírem ou se acidentarem. Falou de um “sens interieur” ou uma dupla vista (no inglês: second sight). Os médiuns sonambúlicos podiam responder perguntas acima de sua capacidade normal. (Paulo H. de Figueiredo, 2005).

Alexander Aksakof (1832)

Em seu livro “Animismo e Espiritismo” chamou os fenômenos que provinham do psiquismo do próprio médium de “personismo” e sugere que a identificação do algo que se comunica durante um transe seja denominado “persona”.

“Fenômenos psíquicos inconscientes, produzindo-se -nos limites da esfera corpórea do médium, ou intra-mediunicos, cujo caráter distintivo é, principalmente, a personificação, isto é, a apropriação (ou adoção) do nome e muitas vezes do caráter de uma personalidade estranha à do médium. … No latim persona se referia antigamente à máscara que os atores colocavam no rosto para representar a comédia, e mais tarde se designou por esta palavra o próprio ator”.

Mas o que é (ou quem é) que se manifesta nesses casos? Continua Aksakof:

“Os fatos dessa categoria nos revelam o grande fenômeno da dualidade do ser psíquico, da não identidade do ‘eu’ individual, interior, inconsciente, com o ‘eu’ pessoal, exterior e consciente; eles nos provam que a totalidade do ser psíquico, seu centro de gravidade, não está no ‘eu’ pessoal; que esse último não é mais do que a manifestação fenomenal do ‘eu’ individual (numenal).”

“… sabemos que nossa consciência interior (individual) e nossa consciência exterior (sensorial) são duas coisas distintas; que nossa personalidade, resultante da consciência exterior, não pode ser identificada como o “eu”, que pertence à consciência interior; ou em outros termos, o que chamamos de nossa consciência não é o mesmo que o nosso “eu”.

Ernesto Bozzano (1862)

Escreveu Bozzano em seu livro Comunicação Mediunica Intervivos, sobre a possibilidade da comunicação mediúnica entre vivos: “…chega-se à possibilidade do “eu integral subconsciente” entrar em relação com outros Espíritos de vivos, ou seja, encarnados, seja mediúnica seja telepaticamente, ora se separando temporariamente de seu próprio corpo somático (bilocação), ora se comunicando ou conversando telepaticamente à distância, depois de ser estabelecida a “relação psíquica”.

Frederic Myers (1846)

Ainda no século XIX propôs a expressão consciência subliminal (se referindo ao que hoje se conhece por inconsciente), por entender que essas atividades como algo que se passava abaixo da linha de flutuação da consciência.

“O Eu consciente, de cada um nós, o supraliminar não pode compreender a totalidade de nossa consciência e de nossas faculdades. Existe uma consciência mais vasta, com faculdades mais profundas, … A maioria dessas faculdades permanecem latentes durante toda a vida…” (em A Personalidade Humana)

Gustave Geley (1868)

Publicou em 1899 o seu estudo sobre os mecanismos do inconsciente, o qual ele denominou de ser subconsciente. Essa expressão suscita a ideia de que há dois seres distintos no âmbito de um só indivíduo. Para ele o ser subconsciente era uma superposição dos arquivos espirituais de todas as vidas anteriores de determinada pessoa.

“… a análise psicológica do ser subconsciente e de suas manifestações leva-nos a descobrir nele uma vontade original, bem como faculdades e conhecimentos muito diferentes do que os da consciência normal; faculdades e conhecimentos supranormais transcendentais; personalidades completas e autônomas.”

“Porém a subordinação do psiquismo inferior [o consciente] ao psiquismo superior [o subconsciente], não significa que existam dois seres distintos, diferentes em essência e destinação. O ser não é duplo, é único. Mas, durante a vida na terra, as contingências cerebrais não permitem senão a manifestação restrita e truncada do psiquismo total.”

Allan Kardec (1804)

Resumo Teórico do Sonambulismo, do Êxtase e da Dupla Vista (Livro dos Espíritos)

“Para o Espiritismo, o sonambulismo é mais do que um fenômeno fisiológico, é uma luz projetada sobre a Psicologia. É nele que se pode estudar a alma, porque é nele que ela se mostra a descoberto. “

“O poder de lucidez sonambúlica não é indefinido. O Espírito, mesmo quando completamente livre, é limitado em suas faculdades e em seus conhecimentos, segundo o grau de perfeição que tenha atingido; “

“O sonâmbulo vê, ao mesmo tempo, o seu próprio Espírito e o seu corpo; eles são, por assim dizer, dois seres que lhe representam a dupla existência espiritual e corporal, confundidos, entretanto, pelos laços que os unem. Nem sempre o sonâmbulo se dá conta dessa situação, e essa dualidade faz que frequentemente ele fale de si mesmo como se falasse de uma pessoa estranha. É que num momento o ser corporal fala ao espiritual, e noutro é o ser espiritual que fala ao ser corporal.”

“O êxtase é o estado pelo qual a independência entre a alma e o corpo se manifesta da maneira mais sensível, e se torna, de certa forma, palpável. Nesse estado, todos os pensamentos terrenos desaparecem para dar lugar ao sentimento puro que é a própria essência do nosso ser imaterial. Acontece com os extáticos o mesmo que com os sonâmbulos: sua lucidez pode ser mais ou menos perfeita, e seu próprio Espírito, conforme for mais ou menos elevado, é também mais ou menos apto a conhecer e a compreender as coisas.”

Hermínio C. Miranda (1920)

A essa “outra consciência”, a interior, Hermínio Miranda propõe o nome de Individualidade. Para o Eu, que está aqui pensando, a “consciência normal” ele usa o nome de Personalidade. Daqui em diante usarei a nomenclatura usada pelo Hermínio nas minhas conclusões, por achar a mais adequada.

Individualidade :

O ser inteligente, o espírito eterno. Guarda em si, todas as experiências fisiológicas e psicológicas desde a sua criação, todas as memórias de suas vidas na matéria e fora dela; normalmente instalada (conectada) no hemisfério direito;

“O espírito, esse ser consciente, responsável, lúcido e permanentemente ligado à mente cósmica, está instalado no hemisfério cerebral direito seu posto de monitorização e comando. É a Individualidade que traz nas suas próprias estruturas espirituais, não apenas a vivência de todo um passado de experiências, como a programação para cada nova experiência que se inicia na carne. Uma vez colocados na memória operacional da criança, no hemisfério esquerdo, os programas necessários à manutenção da vida, ela se retira para o contexto que lhe é próprio e, através de seus terminais no lobo direito, monitora a atividade que a Personalidade vai desenvolvendo.”

Personalidade :

O mesmo ser individual, porém sem todos os recursos da individualidade. Dispõe, regra geral, da memória da vida atual, do núcleo dos instintos, das aquisições morais e de Inteligência, sem no entanto lembrar-se das memórias arquivadas das existências anteriores; normalmente instalada no hemisfério esquerdo; a alma.

“Os habituais conceitos da psicanálise de consciente e inconsciente, nos induzem a crer que há dois seres ”dentro de cada um de nós. Não podemos deixar de reconhecer que suas dissemelhanças se apresentam tão veementes que justifica em parte o pensamento acima. Apesar disso, não há dois seres distintos em nós, o que há é uma realidade única, o psiquismo superior, ou Individualidade, que, mergulhado por uma de suas pontas na matéria densa, tem a outra acoplada ao que poderíamos chamar de psiquismo cósmico. O Livro dos Espíritos, no capítulo VIII, “da emancipação da alma”, trata dessa questão, ou seja, das atividades que o espírito encarnado exerce nos seus momentos de liberdade relativa. HCM, observa que não deve ser qualificado de inconsciente, um processo consciente de si mesmo e que sabe o que quer e para que metas se dirige.

Conclusão

Parece ser consenso entre os pesquisadores e teóricos, do passado e do presente, ou até mesmo óbvio, que a personalidade consciente não tem acesso ao inconsciente (Individualidade) sempre que tem vontade, e mesmo quando tem acesso parece que a vontade de passar essa informação é da Individualidade, que age como se fosse um censor ou uma espécie de auxiliar que tem vontade e objetivos próprios. E muitas vezes é a individualidade que por vontade, toma a iniciativa de passar alguma informação para a personalidade, por exemplo durante os sonhos, ou em breves momentos de lucidez extática.

Concluímos pois com esses pesquisadores que sim, temos sim algo consciente, aparentemente autônomo dentro de cada um de nós além da nossa própria consciência (A personalidade). A grande questão que fica é: como podemos ser um indivíduo e ao mesmo tempo possuirmos duas “consciências”, a individualidade e a personalidade? Mas essa questão será tema para discussão em um próximo artigo.

Mauricio Mendonça, 2017

Publicacão autorizada

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